Dando continuidade aos trabalhos da disciplina, foi proposta a criação de três composições baseadas em tipografia, desenvolvidas através dos versos de três heterônimos muito conhecidos de Fernando Pessoa.
Ricardo Reis
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“Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.”
Ricardo Reis, clássico por excelência, idealista e platônico no amor, constata o efêmero da vida e anseia, no íntimo, por uma fenomenológica eternidade terrena. Procura sempre o mais alto, o impossível, a fim de encrustar uma poesia refinada, concisa, elíptica e cunhada em uma linguagem esmerada. Afligem-no a imagem antecipada da morte e a dureza do fado. Por essa razão, ele busca o refúgio de um epicurismo temperado de algum estoicismo. Latinizante no vocabulário e na sintaxe, o seu estilo é densamente trabalhado e revela ainda, muito claramente, o seu tributo à tradição clássica no uso de estrofes regulares, quase sempre de decassílabos nas referências mitológicas, na frequência do hipérbato, na contenção e concisão altamente expressivas e lúcidas. A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estoicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, privilegia a ode, o epigrama e a elegia. Para Reis, as coisas devem ser sentidas não só como são, mas também de modo a integrarem-se num certo ideal de medidas e regras clássicas. Propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estoica:
- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
- Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade.
Alberto Caeiro
“Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!”
É um poeta de completa simplicidade e considera que a sensação é a única realidade. Faz uma poesia da natureza, uma poesia dos sentidos, das sensações puras e simples. Foi um poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão. Caeiro defende que o real é a própria exterioridade, que não carece de subjetivismos. Proclama-se antimetafísico e é contra a interpretação do real pela inteligência porque, no seu entender, essa interpretação reduz as coisas a simples conceitos. Possui um estilo discursivo com linguagem simples e familiar; liberdade estrófica e métrica e ausência de rima; predomínio do presente do indicativo e raro uso de metáforas.
Álvaro de Campos
“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Orte espasmo retido dos maquinismos em fúria!”
Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra. Houve três fases distintas:
1ª Fase - DecadentistaNesta fase o poeta exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações.
2ª Fase – Futurista/Sensacionista
Esta fase foi bastante marcada pela influência de Walt Whitman e de Marinetti (Manifesto Futurista), nela, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina e da civilização moderna.
3ª Fase – Intimista/Pessimista
A fase intimista é aquela em que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento. Como temáticas destacam-se: a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença em relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a estranheza e a perplexidade, a oposição sonho/realidade.
Campos possui uma poética modernista, sensacionista e com a presença de versos torrenciais e livres. Procura, assim, a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
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